Cíntia

Éramos apenas ela e eu naquela madrugada de um novembro. Carreguei no peito o silêncio da negritude que nos açoitava naquele fétido beco, próximo à rua 5, em que sem balbuciarmos palavra sequer, via-me esquecido até por mim mesmo. Era assim que me sentia. Ela, na sua palescência, bruxuleava seu descór ao vinho que me agarrava, enquanto eu, fitava as paredes em piches ininteligíveis ao meu redor.

Recobrei alguma sobriedade, dessas que me restava ao espirito e o depositei naqueles braços trêmulos. Soergui penosamente. O chão ia cada vez mais longe enquanto as estrelas, agora, mais perto. Quase aqui. Soltei um sorriso largo e inexpressível.

– Ah, a lua! – exclamei.

Eu, que ainda mais pálido, esbranquiçado, e que de tão pálido fez-me pensar ser eu um fantasma, um desses zombeteiros, que por aí, cambaleia, e ora é surpreendido por trupicos e desníveis, tentava me estacar ao chão. Ficar em pé. Fazer um quatro com as pernas. Mas eu assistia, de camarote e ali, presenciando, que a cada instante isso se tornava ainda mais impossível. Mesmo assim, alimentava aquela minha deficiência. E apenas tive de rir do resultado. Por fim, andei -vaguei, perambulei, pernoitei e sei-lá-mais-o-que-, como de praxe é a um típico, e legítimo, bêbado; em vielas e botecos e praças e bares, nada familiares – aliás, que seria um bar nada familiar? Sociedade… arre! Mas, para minha desgraça, não conseguia me tornar um ser inóspito para aquilo que me constrangia o peito. Quem sabe ser uma cela lúgubre, dessas que à qualquer um ultrapassaria o insuportável?! – Mas, não. Ainda não. Enquanto isso, o dia ia nascendo e minha têmpora, essa que noutra noite vazia dessas quase viu um corpo se findando, agora amanhecera contra o gramado d’uma praça qualquer.

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